"À noite, quando só as estrelas me restam,
queixo-me à elas,
Falo à estas distantes amigas,
do meu amor, que enfadonha rima,
insiste em só rimar com 'dor'
E quem sou eu para entender a injusta mágica dos versos?
O meu amor, verdadeiro e forte, no entanto,
não resiste nem ao mundo, e caio.
As estrelas sim, são gentis,
e na fria madrugada compartilham minha angústia.
Mas diante de minhas dúvidas, se calam.
Será que querem me aconselhar
mas têm medo de errar?
Pobres estrelinhas, não sabeis que nós,
que somos muito menos que vós,
nos apavoramos bem mais, por bem menos?
Estrelas, por ele, devo eu passar por cima de mim,
por cima de tudo?
Confesso que penso escutar um 'sim' que,
já deveis compreender, não passa de uma sabotagem da minha alma aflita
sussurrando em meus ouvidos o que querem estes escutar.
Isto é ser humano, estrelinhas, criar verdades mentirosas,
Para satisfazer de mentira a verdade que nem verdade é.
Calem-se para mim, então,
mas, por favor, digam à este que amo em segredo,
que não me engano mais.
Digam-lhe que seus olhos castanhos me disseram tudo
quando ele pensou que nada transparecia,
e que seu calor me envolveu, quando nada mais me protegia.
Pequenina e frágil, aguardo por vossa caridade, estrelinhas.
Se uma de vós se apaixonasse pelo sol,
me entenderia.
Mas Deus foi justo convosco, e nunca divides o firmamento com ele.
À mim, no entanto, não foi dada a mesma graça, e acabei por amá-lo.
Vos peço, calem à mim, mas não a ele.
Digam-lhe do que sinto,
Só esta noite, e vos agradecerei para todo o sempre,
pois o brilho dos olhos dele iluminará todos os dias que me restam,
e a minha paixão clareará todas as noites,
e vereis, estrelinhas que dançais agora nos céus,
que apesar de humanos - ou talvez por isso mesmo,
também sabemos amar.
Como vide, a areia beija o mar, e ninguém se opõe.
Eles também são irmãos, e Deus consente..."
Poema tirado do livro de mesmo nome, Todas as estrelas do céu, do escritor Enderson Rafael.
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