domingo, 27 de fevereiro de 2011

Ala Proibida!

Imprevistos acontecem para que tenhamos uma experiência diferente. Por exemplo, quando se é criança, seus pais sempre "arrumam" um imprevisto que faz com que você tenha que acompanhá-los por um dia no serviço deles. Se seu pai é barraqueiro na praia de Ipanema ou sua mãe trabalha na bilheteria de um parque de diversões, ótimo! Com certeza seu dia será bem agradável e os tais imprevistos serão esperados com grande ansiedade. Agora se sua mãe trabalha num hospital psiquiátrico e seu pai no Hospital do Câncer, seu dia será cheio de tensões e só a de palavra imprevisto ser mencionada te fará arrepiar pêlos onde você não fazia idéia que existiam.
Certa vez, sentada na sala de espera sob olhos vigilantes de uma senhora gorda enquanto esperava mamãe acabar de atender os pacientes, a janela me chamava a atenção. Do outro lado, um pátio coberto cheio de pessoas com roupas que pareciam pijamas, andavam de um lado para o outro. Aquilo me lembrava tanto o recreio da minha escola, tirando claro o fato deles estarem de pijama, que sem perceber, eu estava lá, grudada na janela, pensando como eu poderia chegar até lá. Acho que consegui atrair o olhar de uma mulher que estava no pátio. Nos encaramos por alguns segundos. Pronto, era o convite que eu precisava para dar um rolé pelo local. Mas eu tinha me esquecido da tal secretária que não pensou duas vezes em me pegar pelo braço para me sentar no sofá novamente, quando apontei na janela onde eu pretendia ir. Lembro de ver seus olhos saltarem e seu rosto ficar vermelho. Ela me explicou ofegante que naquela ala ficavam as pessoas loucas, que tinham problemas de cabeça e que se algum dia eu fosse até lá nunca mais sairia. Era uma ala proibida. Nem precisou falar de novo e nem tive coragem de perguntar por que. ela parecia saber o que estava falando. Fiquei ali sentadinha e logo me entreti com um papel e caneta Bic verde que me foi fornecido. Nunca esqueci aquele olhar e sempre que pensava em gente maluca pensava na secretária.
Depois de anos, minha mãe veio me contar que enquanto esteve trabalhando nessa ala, a tal secretária foi levar um carimbo para ela. Na volta, a senhora se perdeu e andou por vários corredores sem encontrar ninguém. Muito nervosa por não achar a saída do manicômio ela deu de cara com um enfermeiro, porém só conseguia repetir: Eu não sou maluca! Eu não sou maluca!
E o enfermeiro bem calmo disse: Claro minha senhora, aqui ninguém é! E a encaminhou para uma sala. Até explicar que focinho de porco não é tomada demorou uns 40 minutos.
Aí toda aquela cena vivida quando criança fez sentido.


Nenhum comentário: